CARTIER
Começou
a pintar em 2006, estuda na Edscola Secundária António Arroio e
posteriormente a Escola de Joalharia Contacto Directo onde participa
nas exposições de final de ano.Enquanto pintor, expõe o seu
trabalho na Rua Garrett, em Lisboa onde mostra pequenos formatos com
temas sobre política “Punk”, religião “Punk”, amor “Punk”
e sexualidade “Punk”. O seu processo de criação é
eminentemente emocional. Com frequencia a sua pintura é considerada
violenta, urbana, com um registo Punk de Street Art. No seu trabalho
usa cores primárias, porque vê televisão. Cartier através da
pintura consegue mostrar as suas puras emoções, o que sente de
verdade. E isso é o que lhe interessa enquanto artista plástico e
cidadão do mundo.
CRITICA DE ARTE
A pintura de Cartier, (nome artístico de Paulo Ramos) procede indubitavelmente de um território mental ocupado pelo imaginário Punk. Nesse terreno acidentado e abissal da Psico- geografia “Punk” habitam certamente imagens em conflito, sonhos anarquistas, energias alternativas e, essencialmente, figurações de um universo humano disforme em busca de representação à superfície da tela.
Quando irrompem e se materializam em pintura, as imagens de Cartier vêm sobretudo impregnadas da sua própria “verdade emocional” e pintadas com as cores primárias (vermelho, azul e amarelo), cores que representam a matéria constituinte da luz e da visão, mas também a aproximam da natureza da imagem televisiva do tipo RGB (Red, Green, Blue)... e talvez não seja por acaso.
A verdade emocional, por contraponto à verdade conceptual, pode ser compreendida como o motor criativo e expressivo subjacente à produção artística de Cartier. Uma espécie de filtro existente entre os olhos e a alma, que ao filtrar a realidade vivida (social, política, mediática, cultural, etc.) a projecta primeiro sobre quotidiano real (dentro do possível...) e depois sobre as telas e outros suportes por ele usados.
Num primeiro contacto visual com as telas de Cartier, sobressai desde logo uma energia luminosa fornecida pelos desequilíbrios cromáticos, e pela tensão entre os vermelhos e os amarelos. Este é um sinal de que estamos a entrar num mundo crispado e de altas temperaturas, sente-se a proximidade vulcânica de uma violência latente.
Até aqui nada de estranho! O mundo é um lugar violento, sempre foi. E a arte também, e a vida também, o sangue, os corpos, a morte, etc... Contudo, a este tipo de violência erótica veio a sobrepor-se uma violência televisionada, servida sistematicamente à hora do jantar em embalagens Happy Meal.
Mas este Cartier, ao contrário do outro - o Louis-François Cartier das jóias e dos relógios de alta gama- conhece bem o quotidiano das ruas onde aliás costuma vender a sua própria arte. E este facto pode fazer toda a diferença, se pensarmos que é no mundo da alta finança e dos condomínios de luxo, das galerias e dos museus e das multinacionais que circula o mesmo capital que passa pelo petróleo e pelo Iraque e pelas guerras que nos servem com batatas fritas congeladas.
As escolhas de vida que fez e as influências estéticas que naturalmente adoptou, colocam Cartier na linhagem daqueles artistas que fizeram uma ligação “selvagem” entre vida, sociedade e arte. Por exemplo, a denominada “Bad Painting” (Martin Kippenberger, Julian Schnabel, Georg Baselitz, Jean-Michel Basquiat, etc..) que inclui os neo-expressionismos como a transvaguarda italiana ou os novos selvagens alemães, caracteriza-se pela deformação da figura, pela ironia e pela irreverência dos conteúdos.
A partir de uma vivência urbana conotada com o Punk, Cartier constrói e devolve-nos imagens habitadas por personagens, por metáforas e por figuras pertencentes a um bestiário pessoal. Figuras antropomórficas e quiméricas, como por exemplo na tela intitulada “pintor violento”, onde um monstro parece delirar face à sua própria criação. Se observarmos outras pinturas suas, podemos constatar que em comum elas têm a presença destes seres monstruosos, alguns mais próximos de uma figuração animal e outros com influências mais cibernéticas ou cyborgs. No conjunto, o seu trabalho parece prometer-nos, num futuro próximo, um universo estético repleto de criaturas inéditas, talvez algumas delas possam mesmo habitar num lugar perto de si....
Rui Matoso
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